A série já se ambientou em inúmeros conflitos do mundo real e é interessante ver a Guerra Fria ser retratada na série Black Ops, muito em parte por causa das operações especiais que aconteceram “debaixo dos panos”. A desenvolvedora do jogo é a Treyarch, mesma do primeiro Black Ops e já veterana desenvolvendo jogos da franquia. Se não bastasse a responsabilidade de entregar um novo Call of Duty no “entre gerações”, ainda é necessário justificar um jogo que sai todo ano com preço cheio. Será que a Treyarch conseguiu fazer a lição de casa? Essa é a análise completa do Showmetech sobre o Call of Duty Black Ops Cold War.
Pronto para a próxima geração e para a anterior
Todo bom gamer sabe que, próximo da chegada de novos consoles, é bom tomar cuidado com qualquer jogo novo que sair, pois inúmeros games (como Control) simplesmente não deviam sair para a geração que está ficando para trás, por requisitarem mais das máquinas do que elas podem oferecer. A versão testada do jogo para esse review foi a do PS4 slim e, felizmente, Call of Duty Black Ops Cold War mostra como tirar 100% dos consoles que ficam para trás, sem matar o desempenho no processo. É claro que algumas texturas não carregadas completamente podem ser encontradas pelos mapas e, estranhamente, no quartel general da campanha (onde passamos o “entre missões”), a textura dos cabelos de alguns personagens (principalmente Adler) não carrega corretamente, destoando da iluminação na cena. Apesar de um exemplo específico como esse, a Treyarch entrega um trabalho visual impecável. A iluminação do jogo é belíssima e me despertou o interesse de testar o game no PS5, que tem o Ray Tracing à seu favor. Mesmo os cenários mais amplos do jogo, com vários inimigos na tela e muita informação acontecendo, não foram o suficiente para que quedas de FPS pudessem ser notadas, mostrando excelência na adequação do jogo à geração que fica (que ainda concentra a maior parte dos jogadores). E para quem gosta de boas cenas de ação cadenciadas por uma trilha sonora empolgante, Call of Duty Black Ops Cold War esbanja estilo. Já ao iniciar o jogo, a trilha de abertura te faz sentir tensão no menu. Sim. Antes de pressionar o primeiro start, você já vai começar a entrar no que o jogo tem a oferecer. Em inúmeros momentos, a trilha adiciona a tensão necessária para que você engaje com a cena e sinta o senso de urgência que o jogo quer que você sinta. A edição de som, no entanto, decepciona em alguns momentos, ao errar no volume da voz dos personagens. Como o jogo possui várias sessões furtivas, saber se um inimigo está próximo ou não é fundamental, e ao ouvi-lo como se ele estivesse do seu lado pode assustar, até você descobrir que não há ninguém tão perto, e a voz vem de um personagem relativamente longe de você. Por outro lado, a dublagem em inglês é de boa qualidade e, felizmente, a brasileira também! A localização foi muito bem feita, tanto em texto quanto em áudio, e vale experimentar o jogo na sua versão em português sem preocupações.
Menos é mais?
Onde os problemas começam a aparecer é na história. Call of Duty Black Ops Cold War se passa na Guerra Fria dos anos 80, quando Ronald Reagan era o presidente dos Estados Unidos. Recebendo instruções do próprio presidente, a missão principal do jogo é encontrar Perseus, personagem baseado no possível espião da União Soviética que teria roubado informações sobre a tecnologia nuclear estadunidense no decorrer da 2ª Guerra Mundial. Tratando-se de uma continuação do primeiro Call of Duty Black Ops, é bom ver rostos familiares, com a volta de Woods e Mason, porém, eles importam menos para a história. Você assume o papel do personagem customizável de codinome “Bell”, sob o comando de Adler. Conforme a trama avança, a tensão entre os lados opostos se estreita, porém, é difícil de engolir o revisionismo histórico do jogo. A franquia Call of Duty muitas vezes foi acusada de louvar a doutrina militar estadunidense demais, de modo que vários jogos souberam dosar melhor, propondo até mesmo reflexão em algumas missões (quem se lembra de “No Russian” no Modern Warfare 2 sabe do que estou falando). O discurso anticomunista engrandecendo os Estados Unidos, sem oferecer o outro lado da moeda, faz com que Call of Duty Black Ops Cold War soe bobo e completamente descolado da realidade. Apesar disso, a história progride na medida em que novas informações são coletadas missão por missão, sendo reunidas em um quadro no quartel general do “entre missões”. Todos os personagens do time estão presentes no “QG” e, após cada reunião, fazem suas próprias coisas, conversam entre si e possuem diálogos conosco, caso assim desejarmos, dando um bom senso de que nós pertencemos a uma corporação viva. Por mais que as pistas sejam dispostas de um modo que convida o jogador a prestar atenção em tudo para ter seus próprios palpites, prestar atenção nesses detalhes não importa muito quando em comparação com a campanha principal. Em alguns momentos, é possível interferir diretamente no jogo, escolhendo se um personagem vive ou morre, ou como encontrar informações essenciais para que planos funcionem. É possível encontrar três diferentes finais, baseado nas suas escolhas. Isso certamente seria mais interessante se você se importasse com algum dos personagens em tela. As decisões, no final, esperam que você se importe com os personagens, mas durante as missões, não há qualquer motivo para simpatizar eles. As missões, em si, são boas, apesar de não inovarem em particularmente nada e acertarem no básico. A melhor missão do jogo trata-se de uma invasão à sede da KGB, e o jogo brilha ao oferecer diferentes possibilidades de como agir, mantendo disfarces e agindo furtivamente. Existem sim cenas grandiosas, mas com míseras 5 horas de campanha, certamente frustram e assustam investir o preço de um jogo cheio. Porém, o verdadeiro foco de Call of Duty Black Ops Cold War e por sua vez, da própria Actvision com a franquia, está em outro lugar.
O verdadeiro foco de Call of Duty Black Ops Cold War
Há tempos, o Call of Duty tem sido um produto que agrega vários outros produtos dentro dele. Se antigamente as campanhas eram maiores (12 horas de duração), hoje, elas se assemelham a um “Tutorial de Luxo” para o multiplayer. Além da campanha, o jogo possui o modo zumbis — já tradicional — o modo multiplayer e o Warzone. Sim, o Warzone está integrado ao produto completo do Call of Duty Black Ops Cold War. Com o arquivo de instalação quebrado em várias partes — podendo optar por não instalar o Warzone, por exemplo — o jogo ocupa significativos 106 GB no PS4 e pode chegar em insanos 230 GB na sua versão mais completa de computador. O Modo Zumbis é perfeito para uma jogatina descontraída, eliminando hordas imensas de zumbis, aprimorando o armamento e liberando novas áreas do mapa. No momento, entretanto, a limitação de apenas um mapa pode fazer com que o modo enjoe rápido. A grande novidade do modo multiplayer no novo jogo é o “Combined Arms“, partidas de 12 contra 12 em mapas maiores que o de costume com veículos disponíveis. Os outros modos de sempre também estão presentes. O Warzone — Battle Royale gratuito de tremendo sucesso — estar integrado ao conteúdo de Cold War nos faz pensar nas movimentações da Actvision. A chegada de Call of Duty Black Ops Cold War aumentou o escopo do Warzone, com armas e acessórios novos, indicando a possibilidade de, apesar de um jogo com preço cheio todo ano, haverá um jogo gratuito constantemente evoluindo.
Conclusão
A Actvision escolheu não mexer em um time que está ganhando, então, no final, a experiência oferecida por Call of Duty Black Ops Cold War não se difere de seus outros títulos. Se você é um entusiasta da franquia, o jogo certamente vai te agradar, mas se o seu interesse é entrar na franquia Call of Duty, existem títulos mais empolgantes para uma primeira viagem. A sua preferência de jogatina também importa na tomada de decisão. Se você busca um jogo em primeira pessoa de tiro com uma campanha longa, as 5 horas não irão te satisfazer. Mas, se jogar online com outros amigos ou mesmo com desconhecidos é algo do seu interesse, certamente um jogo de tiro com gráficos fantásticos e extremamente bem polido é o seu lugar. A dúvida que fica é se os próximos jogos colocarão a campanha de escanteio para que o modo multiplayer roube por completo os holofotes.
Ficha Técnica
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